quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

A felicidade no outro

Pareciam anos, mas só havia passado um dia. Ter data marcada para admirar teu sorriso é frustrante. Tens ideia de quanto o tempo demora a passar quando teu corpo insiste em ficar longe do meu?
A minha felicidade está contigo. Carrega-a em teu peito, junto com a chave que abre um sorriso escancarado no meu rosto quando te vejo.
Os dias passam e a tristeza só aumenta. Aquela lágrima que desce quando deito meu corpo na cama fria e vazia parece se tornar mais frequente. Começo a dormir mais, na esperança de acordar depois de uns três ou quatro dias e poder te ver mais rápido. Lavo o cabelo duas vezes durante o banho, porque penso tanto em você que acabo esquecendo o resto.
E aí eu te vejo. É uma felicidade tão boba, tão grande, e que dura apenas algumas horas. São as horas mais felizes da minha vida.
E aí acaba. E começa tudo de novo... tristeza, solidão, reticências em cada final de frase. "Queria te ver..." "Queria te abraçar...". Reticências são, sem dúvida, a pontuação mais melancólica do mundo! E o mês inteiro segue assim... um dia ótimo, outro fatal.

Namoro virtual

Já conheci, conheço e vivi a experiência de ter um "namoro virtual". A palavra "virtual" sempre parece deixar as coisas mais frias, menos intensas e até mesmo falsas.

A ideia que as pessoas geralmente tem de relacionamentos virtuais é como se a vida fosse separada entre o real e a fantasia. Não existe vida real e vida virtual. É tudo vida, apenas. Relacionamentos virtuais são como qualquer outro relacionamento, só que sem a presença física. Aí você pensa "mas namoro sem uns amassos não é namoro". Bom, eu acredito que isso não seja verdade. Enquanto houver amor, respeito, confiança e intimidade, é namoro, sim. É difícil entender, eu sei. Mas o que podemos fazer se o amor da nossa vida mora a quilômetros e quilômetros de distância de nós? Temos que deixá-lo partir por um detalhe tão pequeno quanto esse?

Para se manter um relacionamento assim é preciso muito mais amor, pois não ter quem se ama ao nosso lado -literalmente-, dói. É cansativo, é estressante, exige muito mais confiança, mas é um sacrifício que fazemos pelo verdadeiro amor.

É claro que nem todas as pessoas suportam a distância, e é por isso que é difícil (mas não impossível) encontrar um casal com anos de namoro virtual.

O amor, a troca de segredos, a palavra doce, o "eu te amo" são os mesmos. Talvez um pouco menos tradicionais, mas continuam sendo tão intensos e verdadeiros quanto todos os outros.

Não é coisa de "nerd", nem de gente sem vida social. Não são excluídos da sociedade, muito menos uma aberração. São pessoas comuns, com vidas comuns, que apostaram no amor à distância.

quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Fim do mundo

Não matamos apenas por proteção. Os seres humanos tem a ideia errada de que podem, sem problema algum, matar um animal, mesmo que seja uma pequena formiga, apenas por matar. Ou pior ainda, por prazer. Lá está sua próxima vítima. Talvez andando, procurando alimento. Não importa o tamanho, o motivo, o local. Nós matamos.
E por que seria diferente com os animais da mesma espécie? O que nos leva a crer que uma pessoa não irá matar a outra pelos mesmos motivos banais (ou a falta deles)?
Em um mundo cercado de caos, de maldade, de total falta de amor pelo semelhante, ainda há pessoas que acreditam num futuro melhor. Por que melhoraria? Por que deixaríamos de ser quem somos? Por que mudaríamos de ideia? Nada vai mudar. Na verdade, a tendência é piorar.
Envergonho-me de ser como todos os outros, e me envergonho mais ainda de afirmar com total certeza que não mudarei. Eu colaboro para o fim do mundo. Todos colaboramos.
Então, amigo, pare de acreditar que o melhor virá, pois é enganação. Prepare-se para o pior.
A cada dia as pessoas se acostumam mais e mais ao assistir na televisão o anúncio de um caso de estupro, de brigas no trânsito, de pais matando filhos. Não era pra ser assim. Mas, infelizmente, é.
Não existe mais sentimento de revolta em nós. Tudo se tornou comum, aceitável. Enquanto não estiver acontecendo conosco, está tudo bem. E não adianta parar e refletir sobre tudo isso agora e amanhã voltar para a mesma vida.
Não estou pedindo para que você mude. Eu deixei de acreditar nesse mundo há muito tempo.
Assim como o mundo começou, ele também irá acabar. Não questiono sua crença, nem religião ou fé. Só estou expondo o óbvio. Independentemente de como você ache que é o fim do mundo, ele está chegando.
Não é a tecnologia que irá mudar algo, nem a esperança de vida em outros planetas, nem nada. A única coisa que poderia nos salvar somos nós mesmo, mas ninguém se importa muito com isso. Jogamos essa responsabilidade nas mãos dos grandes líderes, dos cientistas, da natureza.

Talvez esse seja um texto de revolta, ou de conformismo. Julgue como quiser.

sábado, 7 de janeiro de 2012

Fundo do poço

Ele precisava de alguém. Ele precisava muito da ajuda de um amigo, de um familiar. Ele escolheu a pessoa errada para ajudá-lo. Ele escolheu o amor. A garota que parecia saber como lidar com seus problemas, que parecia saber amá-lo incondicionalmente era apenas mais uma garota. Um pouco assustada, um pouco egoísta. Ela não quis mostrar o mundo dela à ele. Sua vida permanecia intacta, sem nenhuma esperança, nenhum motivo para fazê-lo mudar. Talvez ele não quisesse mudar. Talvez ele tenha escolhido essa garota imperfeita e fraca para dizer ao mundo que não recebeu ajuda suficiente para fazê-lo melhorar e essa seria a desculpa para seguir em sua vida medíocre. Conformou-se com o pouco. Ele, infelizmente, fez tudo que estava ao seu alcance para continuar caindo. Apesar da falta de compreensão da garota quanto ao problema dele, ela tentou ajudá-lo. Algumas palavras que deveriam tê-lo confortado, que deveriam tê-lo aproximado de uma vida como ele esperava foram ditas por ela. De nada ajudou. Agora quem começava a cair era a garota. Ele não reparou nos esforços dela (que talvez tenham sido poucos para ele) em tentar trazê-lo a vida novamente. Alguns amigos viraram as costas, mas ela parmeceu lá. Por pouco tempo. Ela percebeu que não houve nenhuma evolução da parte dele. Na verdade houve uma involução dela. Ele começava a afundá-la, na esperança de que ele fosse boiar. Ela decidiu abandoná-lo. Durante esse tempo ele arrancou uma parte da alma da garota. A fez sentir coisas que nunca sentiu. Ele a enganou. Ela o enganou. Foram mentiras lançadas para todos os lados. Hoje a garota tenta continuar caminhando. Hoje, ele segue na mesma vida, na desgraça em que ele mesmo se enfiou.

quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

Começo

Ela estava na pior. Sozinha, desorientada, sem ninguém para conversar ou pedir uma ajuda para levantá-la. Todas as palavras ditas por ele foram lançadas ao vento. As palavras de seus companheiros pouco lhe importava, pois ninguém sabia o real motivo de tanta amargura. Acabou por dar um jeito de levantar-se e continuar sobrevivendo num mundo afogado em mentiras, hipocrisia e superficialidade. Foi aí que uma pessoa começou a não se encaixar nesse padrão. Ela sempre pareceu verdadeira, segura de seus desejos, honesta e confiável. A garota buscou em todos os lugares algo que tornasse essa pessoa igual a todas as outras. Não encontrou nada. Sua personalidade continuava intacta, sem nenhuma mudança causada por este mundo caótico. Aproximar-se era a solução? Decidiu que descobriria a qualquer preço. Mesmo que isso custasse umas amizades, uns namoros, alguns poucos sorrisos. A cada dia que se passava ela se encantava mais com a doçura e gentileza da pessoa que logo mais passou a ser sua paixão. Sim, ela estava apaixonada. Coisa que não era muito difícil de acontecer, pois ela vivia em busca disso. O medo de ser apenas mais uma mentira na sua vida não a deixava pensar. Era medo demais para uma pessoa só. Mesmo assim ela arriscou. Entregou seu coração, seus pensamentos, contou segredos e pediu para que ele entrasse em sua vida. Até hoje ela não descobriu nada que mudasse sua visão sobre ele. E esse é só o começo de uma história que ainda renderá muito.



Apesar do escritor Edgar Allan Poe ser famoso por seus contos de terror e suspense, um de seus trabalhos que mais admiro e que sempre leio é o poema Annabel Lee. A tristeza exalada nesse poema é doce, delicada, carregada de mistério e romance. É por esse motivo que compartilho com vocês essa obra.



Annabel Lee

Há muitos, muitos anos, existia
num reino à beira-mar
uma virgem, que bem se poderia
Annabel Lee chamar.
Amava-me, e o seu sonho consistia
em ter-me para a amar.

Eu era criança, ela era uma criança
no reino à beira-mar;
mas nosso amor chegava, ó Annabel Lee,
o amor a ultrapassar,
amor que os próprios serafins celestes
vieram a invejar.

Foi por isso que há muitos, muitos anos,
no reino à beira-mar,
de uma nuvem soprou um vento e veio
Annabel Lee gelar.
E seus nobres parentes se apressaram
em de mim a afastar,
para encerrá-la numa sepultura,
no reino à beira-mar.

Os anjos, que não eram tão felizes,
nos vieram a invejar.
Sim! Foi por isso (como todos sabem
no reino à beira-mar)
que um vento veio , à noite, de uma nuvem
Annabel Lee matar.

Mas nosso amor, o amor dos mais idosos,
de mais firme pensar,
podia ultrapassar.
E nem anjos que vivam nas alturas,
nem demônios do mar,
jamais minha alma da de Annabel Lee
poderão separar.

Pois, quando surge a lua, há um sonho que flutua,
de Annabel Lee, no luar;
e, quando se ergue a estrela, o seu fulgor revela
de Annabel Lee o olhar;
assim, a noite inteira, eu passo junto a ela,
a minha vida, aquela que amo, a companheira,
na tumba à beira-mar,
junto ao clamor do mar.

(Edgar Allan Poe com tradução de Oscar Mendes e Milton Amado)