sexta-feira, 30 de abril de 2010

Amores paralelos

Ele escrevia sentado não tão próximo quanto devia de mim. E as palavras e as letras pareciam saltar de suas mãos trêmulas. Era como se a idéia fosse escapar em questão de segundos. Ele parecia tão apavorado e nervoso... Eu sempre desviava o olhar quando seus olhos pousavam sobre meu corpo. Sua aflição parecia tão assustadora... seu olhar era tão triste. A única coisa em que pensava fazer era envolver meus braços em seu corpo, num ato inocente de confortar seu coração.
Ele estava tão pálido que já parecia morto, mas creio que só o que havia de morto nele era sua felicidade. Vestia uma roupa toda escura e uma enorme bota tomava conta de seus pés. Seu cabelo caía sobre todo o rosto, mas quando ele olhava para mim era de se notar lágrimas caindo calmamente sobre sua face. Sua boca era tão vermelha quanto uma cereja e era de uma delicadeza infinita.
Eu só pensava em tê-lo perto. Muito mais perto do que qualquer um de vocês já imaginou. E eu o desejava como nunca desejei alguém. E o desespero tomou conta de mim quando ele se levantou e veio caminhando lentamente em minha direção. Trazia em suas mãos a folha em que depositou seus sentimentos póstumos. Sentou-se ao meu lado e pude ver seus lábios em movimento.
Foi então que abri meus olhos. Olhei ao meu redor e não percebi nada. As coisas começaram a fazer sentido aos poucos. Ninguém me olhava. Vi indiferença nos olhos de todos. E, mais uma vez, o meu grande amor se foi. E eu me pergunto com uma freqüência espantosa... Será que um dia ele sairá dos meus sonhos e tomará todo o meu coração para si?

E eu me afogo em sonhos...