quinta-feira, 10 de novembro de 2011

O pássaro

Pousou em uma árvore exuberante, com galhos e folhas atraentes para um bom descanso. O pequeno e frágil pássaro olhou ao seu redor, mas não deu importância a liberdade que tinha, ao carinho e companhia de outros da sua espécie, aos voos livres, ao vento tocando suas penas e transformando sua vida num verdadeiro paraíso. Ele continuava a sentir um vazio no peito, nada estava bom o suficiente para ele. Foi nesse momento que avistou uma janela entreaberta e decidiu que exploraria o local de perto. Passou pela janela e pousou em cima de uma cadeira velha e empoeirada. O lugar tinha um aspecto estranho, nada confortável e seguro, mas possuía uma mesa limpíssima, com comida farta sobre ela. Apesar do medo que aquele lugar desconhecido causava ao pássaro, ele decidiu que comeria tudo o que estivesse ao seu alcance, e aproveitaria ao máximo sua nova experiência. E aproveitou. Beliscou um pouco de cada comida. Depois de toda aquela fartura, o pássaro resolveu permanecer no local um pouco mais, esperando que algo acontecesse. Bom... aconteceu. Um homem com vestimentas suspeitas, alto e magro agarrou o primeiro pano que viu em sua frente e jogou sobre o frágil corpo daquele inocente pássaro. Aconteceu tão rápido, tão repentino que o animal ficou desnorteado. O homem segurava o pássaro envolto no pano com uma mão, e com a outra subia à mesa uma gaiola velha que se encontrava no chão. Apressou-se em jogar, sem nenhuma delicadeza, o pequeno animal dentro dela. Quando a gaiola foi devidamente fechada e o pano retirado do corpo do pássaro, o desespero tomou conta daquele ambiente. Asas batendo, bicadas nas grades enferrujadas da gaiola, pios medonhos e assustadores saíam daquele animal, que lutava com todas as suas forças para sair de lá. Todo o esforço foi em vão. Já cansado de tanto lutar, o pássaro percebeu que não sairia daquele lugar nem tão cedo, e por isso aquietou-se. A noite chegou, e o pássaro tremia de frio e medo. O homem, que já havia retirado da mesa toda a comida, colocou um pouco de água e sementes para alimentar sua nova presa. O pobre pássaro não possuía forças nem para se alimentar. A noite passou, o dia começou a clarear e o pássaro não se movimentava. As horas passavam e nada mudava. A noite começava a chegar, novamente. Para a sua própria sobrevivência, o pássaro resolveu comer um pouco das sementes. Os dias se passaram e o homem não fazia nada com o pássaro. Apenas o alimentava e limpava sua gaiola. Semanas e meses se passaram desde a captura do pequeno animal, e nada mudava. Era sempre a mesma rotina: colocar a comida, a água e limpar a gaiola. Sentindo-se solitário, sem vida e privado de voar, o pássaro decidiu que sairia daquela gaiola de qualquer jeito, mesmo que isso custasse a sua vida. Passou o dia planejando um modo de sair dali. Não tinha muitas opções, e por isso decidiu que quando abrissem a gaiola para limpar e colocar comida, ele bicaria a mão do homem até não conseguir mais, se chocaria contra as grades da gaiola e assustaria o homem de todos os jeitos possíveis, até que ele se assustasse e retirasse a mão de dentro da gaiola, permitindo a passagem do pássaro. Esperou até que esse momento chegasse e executou o plano exatamente do jeito que havia previsto. Suas asas estavam um pouco atrofiadas por ter permanecido tanto tempo sem voar, e enquanto se esforçava para chegar à janela que permanecia entreaberta, o homem pegou uma faca e arrancou um pedaço da asa do pássaro, mas não foi o suficiente para impedi-lo de se chocar contra a janela e se arrastar até cair para fora e bater seu corpo na grama seca. Sangrando e sentindo muita dor, o pássaro seguiu se arrastando até encontrar um grupo de outros pássaros, que o ajudaram e cuidaram dele. Ele nunca mais conseguiu voar, permanecendo no chão o resto de sua vida. O homem continuou aprisionando outros pássaros, que às vezes morriam, às vezes conseguiam escapar.

(Como uma analogia ao meu presente)

Nenhum comentário:

Postar um comentário